Sobre o amor que sustenta e o que sufoca
- Dra Thayane Esteves
- 11 de jun.
- 2 min de leitura
Nem sempre o amor é o que nos ensinaram. Muitas vezes, ele chega travestido de cuidado, mas carrega o peso do controle. Outras vezes, vem com gestos grandiosos, mas falta-lhe presença verdadeira. Pode vir com flores, mas não tem raízes. Pode vir com palavras, mas não tem escuta. E há momentos em que o amor, ao invés de aquecer, esfria porque exige demais, ou porque não encontra espaço onde possa respirar.
Afinal, o que é o amor senão um espelho onde também nos enxergamos? E o que acontece quando, nesse reflexo, deixamos de nos reconhecer?
Na prática clínica, testemunho o quanto os vínculos amorosos nos atravessam. Homens e mulheres que chegam com o coração em desalinho, tentando entender onde perderam o eixo. Pessoas que doaram demais. Outras que não conseguiram se entregar. Algumas que amam tanto que esquecem de si. Outras que evitam o amor porque um dia ele machucou demais.
E não, não há receita de amor saudável. Mas há sinais. Há perguntas que ajudam a clarear a alma.
Você sente que pode ser quem é, dentro dessa relação? O amor que você vive te aproxima de si, ou te afasta? Há espaço para o silêncio, para o desacordo, para o limite? Ou é preciso ceder sempre, sorrir sempre, calar sempre?
Às vezes, amar vira sinônimo de resistência. A pessoa permanece não porque está feliz, mas porque tem medo de ir. Medo de ficar só. Medo de não encontrar outro amor. Medo de desagradar. E assim, o vínculo que deveria nutrir passa a consumir. E pouco a pouco, algo dentro se esvazia.
Mas também é verdade que o amor pode ser cura. Quando nasce do respeito, da presença, da liberdade de ser. Quando não tenta salvar, mas escolhe caminhar junto. Quando não exige perfeição, mas acolhe a imperfeição com ternura.
Amor que sustenta é aquele que nos convida a sermos mais de nós e não menos. Que nos lembra que é possível discordar sem destruir, crescer sem afastar, cuidar sem anular.
Na escuta terapêutica, vejo histórias renascerem. Reencontros com o próprio valor. Pessoas que descobrem que amar o outro não deve significar abandonar a si. Que presença não é posse. Que vínculo não é prisão. E que existe vida e beleza mesmo depois das rupturas.
Que possamos, cada um a seu tempo, construir afetos que libertem. Relações que curem. E silêncios que não machuquem.
Porque o amor não se mede em datas comemorativas, mas em como nos sentimos dentro dele, todos os dias.
Comments