Burn-on: Quando a paixão pelo trabalho vira exaustão
- Dra Thayane Esteves

- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.

A paixão pelo trabalho é frequentemente vista como uma virtude. Sentir-se realizado e profundamente conectado com a atividade profissional é algo positivo e altamente valorizado socialmente. Contudo, existe um limite sutil entre dedicação saudável e obsessão prejudicial. É exatamente nesse ponto delicado que surge o fenômeno do Burn-on. Diferentemente do burnout clássico, o burn-on não implica uma queda imediata na produtividade ou no prazer de trabalhar. Pelo contrário, é caracterizado por um engajamento persistente e elevado, apesar de sinais claros de exaustão física e emocional.
O Conceito de Burn-on:
O termo "Burn-on" foi introduzido recentemente no debate acadêmico para designar um quadro específico de burnout no qual o indivíduo mantém elevado desempenho profissional e continua sentindo satisfação, apesar dos sintomas crescentes de exaustão e ansiedade (Preller & Suy, 2022). Esta nova perspectiva oferece uma visão mais ampla sobre como profissionais podem experienciar o esgotamento sem necessariamente demonstrar perda de desempenho.
Características Centrais do Burn-on:
Alta produtividade apesar da fadiga.
Excesso de identificação emocional com o trabalho.
Dificuldade em desligar-se mentalmente das tarefas profissionais.
Ansiedade constante relacionada ao trabalho, mesmo fora do expediente.
Risco elevado de crise súbita emocional e física se o quadro persistir sem intervenção.
Diferenças entre Burnout e Burn-on
Enquanto o burnout tradicional está frequentemente ligado à desmotivação e à perda de sentido profissional, o burn-on ocorre em indivíduos que gostam profundamente do que fazem. Estudos recentes indicam que esta forma de esgotamento atinge principalmente profissionais altamente motivados, apaixonados e frequentemente bem-sucedidos em suas carreiras (Schaufeli & Bakker, 2021).
A Paixão Obsessiva segundo Vallerand
Robert J. Vallerand, psicólogo canadense, identificou dois tipos principais de paixão pelo trabalho: paixão harmoniosa e obsessiva. Enquanto a paixão harmoniosa promove equilíbrio emocional e realização profissional, a paixão obsessiva tende a dominar a vida do indivíduo, desencadeando desequilíbrios psicológicos e físicos que contribuem diretamente para o burn-on (Vallerand, 2015).
Perfis Psicológicos Suscetíveis ao Burn-on
Pesquisas sugerem que pessoas com tendências perfeccionistas, baixa autoestima encoberta por alto desempenho e dificuldade em dizer "não" têm maior probabilidade de desenvolver burn-on. Tais características contribuem para a incapacidade de reconhecer os próprios limites (Curran & Hill, 2019).
Efeitos do Burn-on na Saúde Física e Mental
Estudos apontam que indivíduos com burn-on frequentemente apresentam sintomas como distúrbios de sono, gastrites, enxaquecas e risco aumentado de transtornos de ansiedade e depressão (Maslach & Leiter, 2021). O desgaste silencioso prolongado pode culminar em crises abruptas, como síndrome do pânico ou esgotamento total.
Estabelecimento de Limites Claros
Definir limites claros entre a vida pessoal e profissional é uma prática fundamental para prevenir o burn-on. A gestão consciente do tempo e pausas regulares são recomendadas por profissionais de saúde mental como formas eficazes de reduzir riscos.
Técnicas de Relaxamento e Mindfulness
A inclusão de práticas como mindfulness, yoga e meditação na rotina diária tem demonstrado reduzir significativamente sintomas de ansiedade e melhorar a qualidade do sono, prevenindo assim o desenvolvimento do burn-on (Kabat-Zinn, 2013).
Terapia e Suporte Emocional
A psicoterapia, especialmente abordagens cognitivo-comportamentais e psicanalíticas, pode ajudar a identificar padrões emocionais inconscientes que mantêm o indivíduo preso em comportamentos prejudiciais relacionados ao trabalho (Freud, 1920; Beck, 1979).
Estudos de caso detalhados mostram como indivíduos identificados com burn-on frequentemente ignoram sinais claros de alerta, priorizando resultados imediatos sobre a saúde emocional e física. Uma análise psicanalítica desses casos pode revelar padrões inconscientes de busca por validação externa e medo profundo de fracasso ou rejeição (Kernberg, 1975).
O burn-on representa um risco real e crescente no contexto atual de trabalho hiperconectado e altamente exigente. Reconhecer esse fenômeno precocemente é fundamental para garantir uma vida profissional saudável e sustentável. A conscientização, o autocuidado e o suporte psicológico são essenciais para transformar a paixão pelo trabalho em uma experiência positiva e equilibrada.
A abordagem preventiva ao burn-on não apenas melhora o desempenho profissional a longo prazo, mas também proporciona qualidade de vida, satisfação genuína e realização emocional profunda.














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