Fugir do que dói: quando evitar é sobreviver, mas também se perder
- Dra Thayane Esteves
- 10 de jun.
- 2 min de leitura
Há dores que não gritam elas silenciam. Que não se mostram elas se escondem. E entre as dores mais invisíveis vividas por quem enfrenta o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), está a dor da evitação.
Evitar, nesse contexto, não é preguiça, covardia ou falta de força. É um mecanismo de sobrevivência. O cérebro, marcado pela lembrança de algo insuportável, aprende a associar certos lugares, cheiros, rostos, conversas ou até emoções ao trauma vivido. Então ele tenta proteger, bloqueando acessos, criando fugas, congelando sentimentos.
A porta da rua começa a parecer perigosa. Falar sobre o passado parece reabrir uma ferida que nunca cicatrizou. Sentir demais parece um risco afinal, da última vez que sentiu, doeu demais.
A pessoa evita o que pode doer. Mas, aos poucos, começa a evitar também o que poderia curar. Evita encontros, experiências, novos afetos. Evita até a si mesma. E viver passa a ser apenas sobreviver.
Evitar pode parecer seguro mas é uma prisão
O que começa como proteção se torna prisão. A evitação, embora alivie no curto prazo, reforça o medo no longo prazo. Quanto mais evitamos, mais o cérebro entende que aquilo é perigoso. E a vida vai se estreitando, se empobrecendo.
É por isso que o tratamento do TEPT precisa ser feito com delicadeza, respeito ao tempo e muita segurança emocional. Em psicoterapia, é possível reaprender a olhar para essas memórias com outra perspectiva, construir recursos internos e restaurar a confiança na vida.
Não se trata de forçar uma exposição. Trata-se de, com apoio e acolhimento, ir reocupando o mundo. Porque o trauma não define quem você é. Ele é uma parte da sua história mas não precisa ser o enredo inteiro.
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